[EXERCÍCIOS] "AMOR", DE CLARICE LISPECTOR
Amor, de Clarice Lispector.
Texto para a questões de 1 a 4.
Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora
perigosa da tarde, quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol
alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis
limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia
lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto – ela o abafava com a mesma
habilidade que as lides em casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer
compras ou levar objetos para consertar, cuidando do lar e da família à revelia
deles. Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio
exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranquila vibração. De manhã acordaria
aureolada pelos calmos deveres. Encontrava os móveis de novo empoeirados e
sujos, como se voltassem arrependidos. (...) Estava bom assim. Assim ela o
quisera e escolhera.
(Clarice Lispector. “Amor”, em Laços de família)
1. Dentro do contexto do conto “Amor”, por que a tarde é chamada de “hora perigosa”?
2. O que quer dizer o narrador com a expressão “à revelia deles”?
3. Qual expediente a protagonista tomava para conseguir escapar da “hora perigosa da tarde”?
4. Dentro da lógica do conto, os móveis amanhecerem empoeirados era um
fato positivo ou negativo?
Texto para as questões de 5 a 8.
Incapaz de se mover para apanhar suas compras, Ana
se aprumava pálida. Uma expressão de rosto, há muito não usada, ressurgira-lhe
com dificuldade, ainda incerta, incompreensível. O moleque dos jornais ria
carregando-lhe o volume. Mas os ovos haviam quebrado no embrulho de jornal.
Gemas amarelas e viscosas pingavam entre os fios da rede. O cego interrompera a
mastigação e avançava as mãos inseguras, tentando inutilmente pegar o que
acontecia. O embrulho dos ovos foi jogado fora da rede e, entre os sorrisos dos
passageiros e o sinal do condutor, o bonde deu a nova arrancada de partida.
Poucos instantes depois já não a olhavam mais. O
bonde se sacudia nos trilhos e o cego mascando goma ficara atrás para sempre.
Mas o mal está feito.
A rede de tricô era áspera entre os dedos, não
íntima como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era
um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E como uma
estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito.
(Clarice Lispector. “Amor”, em Laços de família)
5. O que indica, dentro da lógica do conto e principalmente da história de vida da protagonista, que “uma expressão de rosto, há muito não usada, ressurgira-lhe com dificuldade, ainda incerta, incompreensível”?
6. O que simboliza em “Amor” a quebra dos ovos, que passa a incomodar Ana?
7. Explique a seguinte declaração sobre a rede de tricô: “não íntima como quando a tricotara”.
8. O que o narrador quer dizer com a expressão recorrente “o mal estava
feito”?
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