[MOVIMENTO] NATURALISMO

 


"O Fado", de José Malhoa (1910)


A pintura acima é uma obra tipicamente naturalista. Observe os elementos e detalhes da cena, pois ele irão auxiliar na compreensão desse movimento estético. 

O fado é um gênero musical típico de Portugal e de origem popular. Abaixo você pode ouvir uma composição de Ana Moura, cantora portuguesa, que traz características do fado tradicional e da música pop contemporânea.


Como as origens e características Naturalismo são muito semelhantes às do Realismo, há divergências entre críticos literários sobre a classificação deste movimento estético: alguns o definem como uma escola literária independente; outros o colocam como vertente do Realismo, chamando-o assim de Realismo-Naturalismo.

O escritor francês Émile Zola, influenciado pelas teorias científicas da época, foi o precursor do movimento na Europa. Um de seus principais romances, Germinal (1881, trata das condições de trabalho dos mineiros; para escrevê-lo, Zola trabalhou durante alguns meses em uma mina de carvão com o objetivo de se aproximar de seu “objeto de estudo” e escrever uma obra que fosse o mais fiel possível à realidade.


Características

As principais características do período incluem: uma análise social profunda de grupos marginalizados, isto é, que não costumavam aparecer até então na literatura. Há valorização dos ambientes coletivos, como aglomerados e habitações.

Inspirados pelo cientificismo do século XIX, muitos escritores escreveram "romances de tese", isto é, romances que pretendiam provar algum aspecto da natureza dos seres humanos em sociedade. No caso dos escritores do Naturalismo, a principal delas era o determinismo, isto é, a prova de que os seres humanos são influenciados por seu meio, pelo momento em que vivem e pela sua raça.

Assim, muitos romances priorizam aquilo que é instintivo e primitivo no ser humano, em detrimento da razão, como a agressividade e o erotismo, além de contarem com narradores objetivos e oniscientes, que assistem às cenas como espectadores-cientistas que dissecam seus personagens, com o intuito de confirmar suas teses.

Para os dias de hoje, muitas dessas "teses" não são mais válidas. No entanto, os romances têm seu valor histórico para a literatura. Inclusive para tentar entender a forma como elite cultural e literária observava e avaliava a sociedade.


No vídeo abaixo, você pode conhecer um pouco mais sobre o Naturalismo.






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EXERCÍCIOS



1. O primeiro texto é de Aluísio Azevedo, mais importante autor do Naturalismo brasileiro, e o segundo é de Machado de Assis, grande nome do Realismo em nosso país. Ao descrever e definir suas personagens, os dois autores criam perfis distintos, atendendo às regras de suas tendências literárias, já que cada um deu atenção, respectivamente, a aspectos

a) nobres e vulgares.

b) físicos e psicológicos.

c) líricos e místicos.

d) subjetivos e objetivos.

e) depreciativos e enaltecedores.



"O Vagão da Terceira Classe", de Honoré Daumier (1864)


2. O quadro acima exibe uma nova realidade urbana, o transporte por trem que se instalava em Paris. Ao escolher um vagão de terceira classe, o artista filiou-se a uma tendência entre os naturalistas, que consiste em abordar

a) o progresso alcançado pelas grandes cidades.

b) a inércia dos marginalizados.

c) o espírito contestador dos proletários.

d) a realidade dura dos membros da classe baixa.

e) a difusão de ideais críticos de viés socialista.


3. Considere o que se afirma a seguir e responda ao que se pede.


• O Realismo é um conceito genérico, que designa, sobretudo, uma reação antirromântica e o compromisso com a objetividade;

• O Naturalismo é uma tendência cientificista e determinista do Realismo, na qual o homem é encarado como animal, regido pelos instintos, pelos aspectos biofisiológicos de sua constituição, e condicionado pelo meio em que vive. São frequentes os registros de aspectos “baixos" do corpo e do comportamento.


Nos trechos a seguir, assinale com R aqueles que podem ser considerados simplesmente realistas e com N os que apresentam um enfoque naturalista.

I. (   ) ... E enquanto uma chora, outra ri; é a lei do mundo, meu rico senhor; é a perfeição universal. Tudo chorando seria monótono, tudo rindo, cansativo; mas uma boa distribuição de lágrimas e polcas, soluços e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária, e faz-se o equilíbrio da vida...

II. (   ) Este honesto tabelião era um dos homens mais perspicazes do século. Está morto: podemos elogiá-lo à vontade. Tinha um olhar de lanceta, cortante e agudo. Ele adivinhava o caráter das pessoas que o buscavam para escriturar os seus acordos e resoluções; conhecia a alma de um testador muito antes de acabar o testamento.

III. (   ) ... Ele pôs-se a devorar, sofregamente, olhando inquieto para os lados, como se temesse que alguém lhe roubasse a comida da boca. Engolia sem mastigar, empurrando aos bocados com os dedos, agarrando-se ao prato e escondendo nas algibeiras o que não podia de uma só vez meter para dentro do corpo. / Causava terror aquela sua implacável mandíbula, assanhada e devoradora; aquele enorme queixo, ávido, ossudo e sem um dente, que parecia engolir tudo, tudo (...) De repente, um pedaço de carne, grande demais para ser ingerido de uma vez, engasgou-o seriamente. Libório começou a tossir, aflito, com os olhos sumidos, a cara tingida de uma vermelhidão apoplética. (...) O glutão arremessou sobre a toalha da mesa o bocado de carne já meio triturado...

IV. (   ) E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.

V. (   ) ... Há dessas lutas terríveis na alma de um homem. Não, ninguém sabe o que se passa no interior de um sobrinho, tendo de chorar a morte de um tio e receber-lhe a herança. Oh, contraste maldito! Aparentemente tudo se recomporia, desistindo o sobrinho do dinheiro herdado; ah! mas então seria chorar duas coisas: o tio e o dinheiro.

VI. (   ) E seu tipo baixote, socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para a venda, da venda às hortas e ao capinzal, sempre em mangas de camisa, tamancos, sem meias, olhando para todos os lados, com o seu eterno ar de cobiça, apoderando-se, com os olhos, de tudo aquilo de que ele não podia apoderar-se logo com as unhas.


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Naturalismo no Brasil

O romance O Mulato (1881), de Aluísio Azevedo, marca o início do Naturalismo no Brasil. O autor, que era abolicionista, aborda em sua obra o preconceito racial e a corrupção da Igreja Católica no Maranhão do fim do século XIX.

Raimundo, jovem mestiço, filho de um português e de uma mulher negra (ex-escravizada de seu pai) vai estudar na Europa e regressa ao Brasil para rever sua família.  Aqui, acaba por se apaixonar pela prima Ana Rosa. O casal enfrenta diversos obstáculos da sociedade maranhense, que não admite ver a moça casada com um homem mestiço, chamado no romance de "mulato" (termo reconhecidamente racista pelos movimentos negros contemporâneos).

Aluísio Azevedo também publicou O Cortiço (1890), sua obra mais conhecida. Esta define-se como romance de tese, já que o autor busca confirmar que os moradores do cortiço em Botafogo, no Rio de Janeiro, são determinados pelo meio e pelas condições em que vivem.



O romance não possui um enredo único, mas uma série de histórias envolvendo seus principais tipos sociais: o português ganancioso, os escravos, a "mulata", o operário, o malandro e os burgueses, transformando-os em estereótipos.

Na reportagem e no mapa mental abaixo, você pode conhecer um pouco mais sobre a obra "O Cortiço".


https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-era-a-vizinhanca-do-livro-o-cortico/





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